As infecções decorrentes da administração de medicamentos e realização de procedimentos invasivos que permitam a sua penetração na corrente sanguínea, linfática ou nos tecidos podem ser responsáveis por infecções sistêmicas graves nos pacientes imunodeprimidos (MOLINA, 2004; CERQUEIRA, 1997). Mais de 50% de todas as bacteremias epidêmicas hospitalares ou candidemias relatadas na literatura, entre 1965 e 1991, foram derivadas de algum tipo de acesso vascular (PHYLLIPS, 2000).
Grande parte das infecções hospitalares (70 a 80%) é causada por microrganismos próprios da microbiota humana, sendo muito importante prevenir essas infecções por meio de medidas simples, porém eficazes, como a antissepsia para a administração de medicamentos, tanto por via intramuscular, como por via endovenosa, vias pelas quais se torna evidente o risco de infecção. Assim, a inadequada preparação local da pele do paciente antes de procedimentos invasivos, contribui para o desenvolvimento de infecções, sendo que uma minuciosa antissepsia deve ser realizada, com adequada escolha do antisséptico (CERQUEIRA, 1997).
A antissepsia no local da aplicação da medicação no equipo de soro também deve ser realizada. Trata-se de um procedimento relativamente simples e barato, que certamente estará evitando possíveis complicações, tais como abscessos, flebites e tromboflebites, que são as infecções mais comuns decorrentes da injeção por via endovenosa (CARVALHO, 2000; CASSIANI, 1998; COIMBRA, 1999; SOUZA & JUNQUEIRA, 2001).
Infecções sistêmicas relacionadas à administração de propofol têm sido relatadas em diversos estudos. O propofol possui como princípio ativo o 2,6 diisopropilfenol, que é formulado em emulsão estéril de óleo de soja, glicerol e lecitina de ovo, o que permite, ao contrário de outras medicações para uso venoso não lipídicas, crescimento bacteriano rápido à temperatura ambiente (SOSIS, 2003; TRÉPANIER, 2003).
Recomendações durante preparo e administração de medicamentos:
- Higienização das mãos (lavagem ou álcool gel);
- Desinfecção com álcool isopropílico das ampolas a serem abertas;
- Antissepsia do local da aplicação da medicação (pele e conexões do soro);
- Utilização de seringas para um único paciente;
- Não utilização de agulhas como respiros em tubos de soros ou frascos de soluções, pois esta prática leva à contaminação da solução;
- Atenção ao ambiente de preparo, que deve ser controlado e especificamente destinado ao preparo de medicamentos (RDC 45/2003);
- Utilização de sistemas fechados, onde as conexões possuem borrachas “autocicatrizantes” ou ainda medicamentos com dose unitária;
- Atenção à conservação dos medicamentos, pois alguns possuem risco potencial para se tornarem veículos de transmissão de doenças (propofol).
No próximo post apresentaremos o 10º (e último) highlight do primeiro passo (Anestesia e Infecção Hospitalar). Veja o que já foi publicado até agora:
1. Higienização das mãos
2. Cuidados durante acesso vascular, procedimentos invasivos e bloqueios regionais
3. Controle da glicemia
4. Controle da temperatura corporal
5. Manobras de ventilação e oxigenação
6. Cuidados com os equipamentos e materiais utilizados em anestesia
7. Administração de Antibióticos – dose certa, hora certa, antibiótico certo
8. Estratégias de reposição volêmica – hidratação e transfusão
9. Administração de medicamentos
10. Analgesia Adequada no Pós-Operatório (próximo!)
Referências:
CARDOSO SR, PEREIRA LS, SOUZA ACS, TIPPLE AFV, PEREIRA MS, JUNQUEIRA ALN. Anti-sepsia para administração de medicamentos por via endovenosa e intramuscular. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2006;8(1):75-82. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_1/original_10.htm.
CERQUEIRA, M C M. Anti-sepsia – princípios gerais e anti-sépticos. In: RODRIGUES, E. A. C.et al. Infecções Hospitalares: prevenção e controle. São Paulo: Sarvier, 1997.
MOLINA, E. Anti-sepsia. In: APECIH - Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar. Limpeza, Desinfecção de Artigos e Áreas Hospitalares e Anti-sepsia. São Paulo: APECIH, 2004.
PHILLIPS, L. D. Manual de Terapia Intravenosa. 2.ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. 551p.
SOSIS MB, BRAVERMAN B. Growth of Staphylococcus aureus in four intravenous anesthetics. Anesth Analg, 1993;77:766-768.
TRÉPANIER CA, LESSARD MR. Propofol and the risk of transmission of infection. Can J Anaesth, 2003;50:533-537.
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