Na última postagem apresentamos o primeiro passo da campanha Segurança no Período Perioperatório: 10 Passos para a Anestesia Segura.
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS E USO DE LUVAS – Anestesia e Infecção Hospitalar
Quando falamos em Segurança na Anestesia ou no Período Perioperatório sempre pensamos em eventos relacionados a óbito, consciência intra-operatória ou dificuldades de intubação. Raramente nos lembramos que a simples lavagem das mãos está correlacionada à segurança do paciente e dos profissionais de Saúde por meio da prevenção de infecção hospitalar, evento de alto impacto nas internações hospitalares, tanto relacionado ao custo quanto à qualidade de vida e evolução dos pacientes.
Em outubro de 2005 a World Health Organization (WHO) lançou o primeiro Desafio Global relacionado ao Programa Global de Segurança do Paciente, o "Clean Care is Safer Care", que tem como foco a redução de infecções relacionadas ao cuidado em Saúde. Estas infecções ocorrem em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo uma das maiores causas de óbito e morbidade em pacientes hospitalizados. A intenção é promover a segurança por meio do estímulo a ações simples e de baixo custo, como a lavagem das mãos e a utilização de álcool gel, combatendo infecções de trato respiratório, circulatórias e outras. Sem falar no custo de um paciente que evolui, por exemplo, com infecção pulmonar no período pós-operatório apresenta. Quando falamos em custos, consideramos custos diretos, como internação, antibióticos, ventiladores e custos indiretos, como a perda na produção familiar, etc.
Os anestésicos gerais interferem na resposta imunológica e provocam alterações hemodinâmicas, ácido-básicas e de controle da temperatura corpórea, que podem influenciar na resposta inflamatória pós-operatória. O efetivo controle da dor também é relevante na velocidade de restauração da ferida cirúrgica, facilitando a ação dos antibacterianos por aumento da fagocitose e aumento de anticorpos, dificultando o aparecimento de resistência bacteriana. (TENSON, 2006; BEILIN, 2003; YOKOYAMA, 2005; NORTCLIFFE, 2003)
O tratamento da infecção sempre considera a bactéria, o hospedeiro e o antimicrobiano/antibiótico. A resposta do hospedeiro pode ser considerada fator de risco, pois depende do estado imunológico específico e não-específico do paciente. A imunidade específica é a memória humoral (anticorpo) e celular (linfócito T) resultante de exposição prévia. A maioria dos anestésicos diminuem a fagocitose e quimiotaxia dos polimorfonucleares, mas não afetam a produção de anticorpos. A imunidade não específica é individual e depende do polimorfonuclear e das defesas pulmonares: reflexos glóticos, células ciliadas e muco (IgA, IgG, surfactante, fibronectina).
O estado físico do paciente (hospedeiro) dimensionado pela classificação ASA (American Society of Anesthesiologists) e os extremos etários também são fatores que podem aumentar o risco à infecção em pacientes cirúrgicos. A infecção (pneumonia) é uma das maiores causas de morte do idoso por involução do timo, redução de fagocitose e hematopoiese. O recém-nato apresenta imaturidade imunológica e o prematuro de baixo peso é hipogamaglobinêmico. Pacientes portadores de diabetes mellitus e microangiopatia e aterosclerose reduzem a perfusão tissular que predispõem à infecção mista, aeróbica e anaeróbica. O fumo e a ingestão crônica de álcool também são considerados de maior risco de contaminação por falha na função imunológica.
Segundo estudos internacionais, o antibiótico é atualmente o segundo grupo de medicamentos mais utilizados nos hospitais. Nas unidades de internação como a enfermaria, a taxa de infecção oscila de 5 a 15%. Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) é bem mais elevada (17 a 32%), sendo que os pacientes internados em unidades críticas apresentam prognóstico mais grave e exigem uma terapêutica anti-infecciosa mais agressiva.
Procedimentos médicos como punção, intubação, sondagem, sutura, entre outras, podem servir como porta de entrada, permitindo a penetração ou invasão de microorganismos patógenos por meio de contato, digestão e inalação.
Além de todas as intervenções propostas, é fundamental a padronização de condutas de prevenção no intraoperatório, pois as primeiras horas após a contaminação bacteriana são uma janela importantíssima para o estabelecimento da infecção e o anestesiologista tem papel fundamental nesse período: a otimização do paciente cirúrgico para a prevenção de infecções. (FERREIRA, 2009)
A Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA) dispõe de recomendações educativas que promovem o controle da infecção hospitalar, como a desinfecção de equipamentos utilizados em anestesia visando, principalmente, a prevenção de pneumonia relacionada à ventilação mecânica, a prevenção de infecção durante a inserção e manutenção de cateteres, recomendações para proteção do paciente imunossuprimido e recomendações para a prevenção de contaminação de medicamentos.
Link: http://www.asahq.org/publicationsAndServices/infectioncontrol.pdf
Link: http://www.asahq.org/publicationsAndServices/infectioncontrol.pdf
A adoção de uma atitude preventiva é responsabilidade de toda a equipe - cirurgião, anestesiologista, enfermagem e outros profissionais - com a higiene pessoal, higienização das mãos, uso de vestuário esterilizado, entre outras, e na atuação terapêutica (conhecimento farmacêutico, farmacocinético, farmacodinâmico do antibiótico e quimioterápico antimicrobiano).
O controle da dor (analgesia) e a estratégia de reposição volêmica têm relação com a infecção hospitalar?
Este primeiro passo referente à Anestesia e Infecção Hospitalar (Higienização das Mãos e Uso de Luvas) foi dividido em 10 highlights, que serão discutidos nas próximas postagens:
Este primeiro passo referente à Anestesia e Infecção Hospitalar (Higienização das Mãos e Uso de Luvas) foi dividido em 10 highlights, que serão discutidos nas próximas postagens:
1. Higienização das mãos
2. Cuidados durante acesso vascular, procedimentos invasivos e bloqueios regionais
3. Controle da glicemia
4. Controle da temperatura corporal
5. Manobras de ventilação e oxigenação
6. Cuidados com os equipamentos e materiais utilizados em anestesia
7. Administração de Antibióticos – dose certa, hora certa, antibiótico certo
8. Estratégias de reposição volêmica – hidratação e transfusão
9. Administração de medicamentos
10. Analgesia Adequada no Pós-Operatório
Relembre os 10 Passos para a Anestesia Segura:
(clique na imagem para ampliar)
Referências:
TENSON T, MANKIN A. Antibiotics and the ribosome.Molecular Microbiology. 2006;59:1664-1677.
BEILIN B, SHAVIT Y, TRABEKIN E et al. The Effects of Postoperative Pain Management on Immune Response to Surgery. Anesth Analg, 2003; 97:822-827.
YOKOYAMA M, ITANO Y, KATAYAMA H. The Effects of Continuous Epidural Anesthesia and Analgesia on Stress Response and Immune Function in Patients Undergoing Radical Esophagectomy. Anesth Analg, 2005; 101:1521-1527.
NORTCLIFFE S-A, BUGGY DJ. Implications of Anesthesia for Infection and Wound Healing. International Anesthesiology Clinics. Immunomodulation and the Inflammatory Response. 2003;41(1):31-64.
FERREIRA FAPB, MARIN MLG, STRABELLI TMV, CARMONA MJC. Como o Anestesiologista Pode Contribuir para a Prevenção de Infecção no Paciente Cirúrgico. Rev Bras Anestesiol 2009; 59: 6: 756-766.
Um comentário:
Excelente o blog e a escolha deste tema acho fundamental , pois vivo alertando colegas sobre o tema. Outra prática desde os tempos que trabalhei no sma e que incorporei ao meu costume é passar acesso venoso central sempre paramentado, e, quando vejo um colega calçando apenas luvas , pertubo o cidadão até ele se paramentar. Um beneficio além de salvagardar o paciente , é o be3nefício da imagem do anestesiologista e o respeito que ganhamois com isso.
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